sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Agora

Por Viveca Santana

Passos cheios de gratidão, de uma valentia inconsciente, largos e livres atravessam o inesperado. Cabelos agora sem medo de chuva, coração pulsando forte e desatento, tudo impregnado de uma insegurança que lembra os primeiros passos da infância, o primeiro passeio de bicicleta.
O frio que antes amedrontava, agora aquece a vontade de sentir-se em casa.
Cresce uma gratidão pela companhia de si mesma, pela sua simpatia, pelo riso solto, pelo perdão das coisas de antes, pela vontade de ir, ir simplesmente, com ganas de desatar os nós que a vida de antes impunha.
Ganas de se entregar a si e seguir, enfrentando pedras, quedas, perdas. Seus passos agora são mais valentes, apaixonados e felizmente agora, solitários.
As lágrimas secaram, os demônios seguiram de férias para um lugar com sol e o que segura a sua mão e aperta com força é a ânsia de caminhar sem rumo, deitar no fim do dia com o corpo abraçado pelas dores da caminhada e da deliciosa incerteza, de seguir e não pensar no amanhã, por enquanto.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

El pozo

"Velo ao longo das noites por aquele que me roubou o sono.
Construo as paredes daquele que derrubou as minhas.
Passo a vida colhendo espinhos e semeando flores.
Choro por beijar aquele que não me conhece mais."

sábado, 25 de setembro de 2010

Então deixa eu dormir

Por Viveca Santana

Na tentativa de viver intensamente, respirar como nunca respirou antes, apoiava as andanças distraídas de seus sonhos, não mais em caminhos através das nuvens, nem nos desejos que vão se perdendo aqui e ali e se conectam com as coisas pequenas do dia a dia, fortalecidos pelo poço fundo do cansaço.
Naquelas tentativas, começava um condicionamento seu, distante dos remédios escravizantes pra dormir e tornava o ato de deitar, cerrar os olhos, preparar o corpo pro sono, um universo só seu, cheio de coisas pra fazer, sem imposições e preconceitos.
O movimento por dentro das cobertas agora assemelhava-se a se acomodar próximo a uma janela e ir percorrendo um caminho novo, descer numa estação desconhecida, sem medo algum, sem ninguém para esperar e sem malas pra levar.
Agora queria sentir o cheiro que vinha da janela aberta, cheiro do vento que soprava em seus cabelos, gelava seu rosto contaminando o corpo todo, ensaiando os planos de recomeço e todos os seus medos.
Seriam pouco dias de sonhos, mas seriam só seus.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Saudade

Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.

José Saramago.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

...

"Pode ter sido culpa da sonolência provocada pelo calor daquele dia de verão... O fato é que, depois que o Coelho Branco passou correndo por Alice, tirou um relógio do bolso do colete e disse que estava atrasado, nada mais foi o mesmo. Seria impossível não segui-lo e entrar naquela toca funda e cair até chegar ao mundo maluco e inesquecível, que convencionamos chamar em português de País das Maravilhas."

domingo, 21 de março de 2010

Ponto Morto

Por Viveca Santana

Submersa em alguns litros d água, via peixes de todas as cores vestindo seu corpo como um véu líquido, devassando sua pele branca.
Olhos abertos no turvo, bolhas surgiam expiradas do peito, tensas e envoltas numa mistura de leveza e peso.
Leves suspiros guardados sopravam de um pulmão cinza, de mulher enjaulada em vícios, frases não ditas e noites mal dormidas.
Na superfície deixavam-se levar pela brisa quente, destino de todos os sonhos, que se partiam fácil como plástico-bolha, em uma mania adquirida em dias de carências de sofá de casa, maços de cigarro e café requentado.
O corpo desejava a terra firme, a areia seca, a angustiosa ordem que virava um musical com jeito de Aznavour, impregnado de saudade e expectativas de recomeço.
Mas enchia de medo a ideia árdua de voltar.
Assim, teimava entre a superfície e o retorno pro fundo, desafiando a gravidade, indecisa entre a proteção da água e a pungência colorida do sol.
A dúvida a estabilizava em ponto morto entre um mundo e outro, doendo costelas e peito, esfriando o estômago, fazendo ranger dentes com a força insistente da indecisão, de quem se acostumou com a inércia e o abandono.
Voltar doía e cansava tanto, que pensava em desistir.
Devia deixar flutuar livre e de braços abertos ou descer ancorada de volta pro fundo, casa de suas ausências, casa de desejos sepultados?


Para ler ouvindo “Bookends, Simon & Garfunkel”.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Cruzando o paraíso

Xico Sá

Por ti chorei lágrimas de rodoviária, lágrimas com poeira de estrada perdida, lágrimas e poeira que viraram maquiagem de lama, tijolos d´alma, emendei lotações e fronteiras, gastei botas, máscaras, joelhos... e contei passos de crimes & castigos, por ti esperei em hotéis baratos do centro, porta aberta, mão no coração, faca no peito, por ti bebi como uma mosca caricata de boteco, fiz lirismos chinfrins em guardanapos, sempre começando assim “por ti” etc e algum verbo que representasse um esforço da porra ou o mais puro exibicionismo de uma dor tão gasta que nem já combinava mais com os meus drinques caubói nem muito menos com as minhas elegantes vestes rotas da mendicância, ah, o seu orgulho não vale uma canção triste de Roy Orbison.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Die, Die My Darling



Eu disse que voltaria, que escreveria alguma coisa, mas não posso deixar de comentar o show do Metallica aqui no Brasil, postando uma das minhas músicas preferidas (além de Master of Puppets, Fuel, One e Enter Sandman).
Não irei, mas certamente me arrependo quando penso que será um dos melhores shows de 2010.